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Margarida Cardoso

Esta entrevista foi conduzida pela colaboradora da área de Comunicação, Beatriz Rodrigues.

A entrevistada foi a professora Margarida Cardoso, docente de variadas áreas da Química (Bioquímica,Engenharia Alimentar e Engenharia de Processos Químicos, entre outras) destacando os Fenómenos de Transferência. É uma professora imprescindível ao nosso curso, onde poderás conhecer o lado pessoal fora da docência.



Qual é a sua formação? Onde tirou o(s) seus(s) curso(s) e qual o(s) grau(s) do(s) mesmo(s)?


Eu sou Engenheira Química. Tirei o curso no Instituto Superior Técnico, acabei em 1989.

Depois trabalhei no técnico num projeto para uma empresa, estive também num estágio na Suíça.

Vim fazer o Doutoramento aqui, na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade da Nova de Lisboa. Fiz o Doutoramento em Engenharia Química, ramo de Fenómenos de Transferência em 1998.

De seguida estive na Austrália, e depois vim para esta faculdade como Professora Auxiliar convidada e agora sou Professora Auxiliar.


E o que a fez escolher o curso de Engenharia Química?


Eu, sobretudo no 11º e 12º ano, gostava muito da disciplina de Química. A Química determina, praticamente tudo na nossa vida, em todos os aspetos.

Na altura pensei em tirar o curso de Química, mas em termos de saídas profissionais achei que era um bocadinho limitante. E portanto, resolvi tirar Engenharia Química porque me abria mais o leque das possibilidades, embora tenha tirado Engenharia Química porque havia um ramo de Biotecnologia no IST, que tinha começado um ano antes de eu entrar.

A minha perspetiva era tirar Engenharia Química com o ramo de Biotecnologia.

Foi mesmo pelo gosto pela Química, e também pela Biologia.


E quais são as principais mudanças que a professora detectou desde que tirou o curso até agora?


Na altura quando estava a tirar o curso tinha tudo em aberto, mas não tinha uma intenção especial de enveredar pelo ensino.

Depois de acabar o curso, fiz um trabalho de investigação para uma empresa, gostei muito. E foi isso que me levou a pensar então na possibilidade de desenvolver mais a área de investigação e na altura, hoje em dia já há mais possibilidades, não havia muitas possibilidades fora do meio académico. E, portanto, teria de passar pelo meio académico para poder desenvolver investigação.

À partida a minha intenção era ir para uma empresa trabalhar e acabei por ficar no meio universitário para poder desenvolver essa área de investigação.


Há muitas diferenças em relação àquela altura em termos dos recursos que temos hoje em dia, sobretudo na área da informática o que exige um esforço constante de atualização. Foi descobrir também a minha vocação e o meu grande gosto de dar aulas, de contactar com os alunos. Não tinha essa noção na altura que poderia gostar tanto e que poderia ser uma vocação.

E é fácil conciliar a vida de investigador com o cargo de professor?

Não, não é nada fácil (ri-se), pelo menos para mim. Até há dois anos tinha uma carga horária muito grande, dava 12h de aulas por semana com 4/5 disciplinas por semestre, portanto tinha sempre, mais ou menos, 200/300 alunos.

E com tudo o que isso implica, não só aulas e preparação destas, e além disso aulas em áreas distintas, portanto tinha de estar sempre a aferir a minha antena conforme a disciplina que ia lecionar, como depois todo o acompanhamento aos alunos que temos de fazer, os emails a que temos de responder, etc. E, talvez também devido a uma característica minha, envolvo-me muito e por isso foi sempre difícil conciliar com a investigação.


Para fazer investigação temos de ter algum tempo seguido em que possamos dedicar-nos a estudar qualquer coisa, a ler artigos e isso é muito difícil porque estamos sempre a interromper, quer dizer faz parte do nosso trabalho, mas com disciplinas novas, a preparar aulas, a atender alunos é um bocadinho entrópico talvez e difícil.

Mas acho que as duas vertentes fazem parte do nosso trabalho.


E o que acha do nosso sistema de ensino atual, o que acha que se podia reformular?


Eu acho que o sistema de ensino, em geral, em Portugal é bom. Sobretudo em algumas universidades, obviamente.

Mas, pelo menos até agora, os alunos ficam com uma formação base bastante sólida, que lhes permite depois desenvolver mais uma determinada área de especialidade.

Agora houve uma mudança em termos curriculares, a licenciatura passou a ser de três anos, o que a mim me parece pouco. Por um lado há a liberdade de o aluno a seguir poder ir para uma área muito mais específica ou até perceber que não é bem aquela a sua área e mudar, e nesse aspeto é positivo.

Em termos de formação de base, não sei. Estamos também no princípio, porque eu acho que a formação em Portugal era mesmo muito sólida, portanto tenho algum receio que só com esses três anos não seja suficiente.

Depois acho que se deveria incentivar mais, apostar num ensino mais em contacto com empresas, mais internacional e saber o que as empresas necessitam e tentar adequar os currículos a essas necessidades.


Qual é que acha que são as competências cruciais para os alunos serem bem sucedidos?


As competências são a capacidade de organização e de foco, a capacidade de trabalho, sendo que a parte de relações interpessoais e relações humanas também é importante. Porque, no fundo, nós trabalhamos todos muito uns com os outros e, portanto, essa parte é mesmo muito importante.


Capacidades de trabalho em grupo, e de ter sempre uma capacidade de resistência e de persistência. Porque as coisas são difíceis de conseguir, não se consegue à primeira nem à segunda e temos de ter essa capacidade de perceber que, se aquele é o nosso objetivo, vamos ter que nos esforçar.

E mesmo com alguns contratempos, manter sempre esse objetivo no fundo do nosso caminho, sem desistir, se isso for mesmo aquilo que se quer.

E depois a formação de base, nas áreas de Matemática e Química que é muito importante. E de Física, que é também importante como competência.


As expectativas em relação aos seus alunos, coadunam com a realidade?


As expectativas dos alunos, não sei se estarão muito de acordo com a realidade.O mercado de trabalho é um meio um bocadinho duro, em que temos de estar constantemente a provar, e sobretudo a não desistir com as várias dificuldades que vão acontecendo. E, portanto, isso é uma capacidade muito importante para um aluno de conseguir não se deixar levar a baixo e de continuar sempre esse processo sem desanimar, porque faz parte As coisas são difíceis, as pessoas e as condições também são difíceis. Portanto tem de haver um investimento de tempo e de trabalho nesse sentido.Alguns, terão mais facilidade.Por exemplo, em relação à indústria, Portugal tem muito pouca indústria e nesse aspeto não há tantas possibilidades para os alunos.

Agora há mais novas tecnologias, empresas de Biotecnologia, mais pequenas sem ser aquelas unidades industriais tão grandes, neste aspeto não há muito e há cada vez menos.

Mas por outro lado acho que os alunos, com tudo aquilo que aprendem, e às vezes estão a aprender e não percebem ao que aquilo se aplica, irão constatar, numas áreas mais do que noutras, como tudo foi importante para saber relacionar as coisas, saber onde ir buscar informação quando é necessária, etc.


E qual é o seu principal conselho para os alunos que estão agora a ingressar no mercado de trabalho?


Eu diria que tentem perceber as áreas de que gostam e que é importante para eles desenvolver, se bem que às vezes temos de começar por outras áreas mas sem nunca perder esse objetivo. Confiarem em si, nas suas capacidades, nos seus conhecimentos, na sua capacidade de trabalho e procurarem, porque isso também faz parte do processo, as várias oportunidades que existem.

Agora é tudo mais fácil do que era no meu tempo, no meu tempo não havia Internet era tudo cartas que se escreviam. Agora a facilidade de comunicação é incomparável e, portanto, é muito mais fácil nesse aspeto contactar com empresas, enviar currículos, responder a anúncios.

E ter sempre uma grande persistência e acreditar sempre que vão conseguir, mesmo que às vezes possam ter que começar por um cargo que não seja bem aquilo que queriam, que o ordenado não é aquilo que gostariam, depois é uma questão de com o trabalho irem desenvolvendo a carreira e tentar aproximar-se daquilo que é o objetivo deles. Mas sempre em alguma coisa de que gostem muito. Terem uma grande persistência e confiança, porque às vezes ouvem-se muitos nãos, mas é mesmo assim, todos nós ouvimos nãos muitas vezes, temos que ultrapassar e continuar com grande confiança.


E agora, numa perspetiva mais pessoal, porque já sei que é difícil conciliar ser professora com ser investigadora, tem algum(uns) hobbie(s)?


Sim, tenho, o meu hobbie principal é tocar guitarra clássica. Toco desde miúda, comecei a aprender com 12 anos talvez, embora tenha sido um percurso um bocadinho acidentado, mas é aquilo de que eu preciso mesmo, é quase como o ar que respiro (ri-se).

Depois também o desporto, ginástica, pilates, adoro dançar, portanto adoro as aulas de zumba.

Gosto muito de ler, de cinema, este último mais esporadicamente.

E também gosto muito de jardinagem, do contacto com a natureza. Até porque tenho uma casa com um jardim de que tenho de cuidar. Nos fins-de-semana que vou para essa casa, que é no Norte, tenho sempre de tratar das plantas, podar, regar, plantar e é uma atividade que me preenche muito, estar em contacto com a natureza e aquela calma, aquela tranquilidade é também muito importante para manter o equilíbrio da nossa vida.

Mas mais no dia a dia é a guitarra clássica.


Tem algum estilo de arte favorito? Agora que já falou do cinema e da guitarra


A música, que é uma das minhas paixões, embora também goste de pintura e de escultura, mas se tivesse que escolher seria a música.


Qual é a sua melhor memória de infância?


Ah, memórias de infância… Tenho muitas! (ri-se). Ainda bem!

Talvez os tempos de férias que passávamos nessa casa no Norte, íamos sempre em setembro e uma parte de outubro. Aquela liberdade de andar de bicicleta, desaparecer e só chegar à hora do jantar, às vezes toda esfolada porque caía. Era fantástico. Os serões também, não havia televisão, passávamos os serões a jogar às cartas, a minha mãe a coser. É uma casa à qual tinha e tenho uma grande ligação. Essas férias eram fantásticas!


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