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Isabel Coelhoso

Esta foi uma entrevista conduzida pela colaboradora do departamento de Comunicação, Beatriz Lobo. A entrevistada foi a professora Isabel Coelhoso, atual coordenadora de LEQB e regente/docente em várias Unidades Curriculares, tanto do primeiro como do segundo ciclo de estudos. É uma figura incontornável do percurso dos estudantes do curso e por isso, aqui, podem conhecer a pessoa por trás do nome e do manto da docência.

Seguem as questões e as respostas, sem mais demora:




Começando pela sua formação, onde é que tirou os cursos e quais são os graus dos mesmos?

Fiz o meu curso de Engenharia Química na FEUP, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Na altura, eram necessários 5 anos para se fazer um curso de engenharia sem mestrado. O mestrado foi depois, também na FEUP, em Engenharia dos Processos Químicos. O doutoramento é que já foi aqui na NOVA.


Sempre pensou em ser professora ou foi algo que ocorreu?

Foi algo que ocorreu. Fiz o secundário, e relacionado com a escolha que fiz escolhi o curso de Engenharia Química.

Anteriormente, tínhamos 2 áreas no secundário: íamos para Letras ou íamos para Ciências e, portanto, eu fui para ciências. Gostava de Biologia, Química, Matemática, e a minha primeira escolha até era ir para Química. Depois, comecei a pensar que seria melhor fazer qualquer coisa numa escala industrial. Vivia em Leça da Palmeira, onde se localizava a Petrogal, a refinaria do Porto. Atraiu-me a área petrolífera, se calhar por estar mesmo ao meu lado.

Quando acabei o curso, fiz um estágio extracurricular na Petrogal. Normalmente, quando acabávamos o curso e antes de começarmos a trabalhar, tínhamos um estágio de 6 meses. Fui para lá e gostei bastante, só que na altura não havia emprego, estávamos numa crise e, portanto, ao fim de 6 meses estava desempregada. Fui para uma outra empresa, em São João da Madeira, de espumas de poliuretano, mas não gostei tanto. Enquanto a Petrogal era uma grande empresa, eu fiquei a fazer otimização do processo, que era algo que estava muito ligado ao curso. A outra empresa era mais pequena. Fiz essencialmente a gestão de pessoas e não gostei. Comecei a concorrer para outras coisas. Concorri para a Universidade de Aveiro, não fiquei, e depois concorri para Universidade de Coimbra e fiquei. Portanto, fui assistente na Universidade de Coimbra, onde estive durante o mestrado, que fiz na FEUP e, entretanto, mudei-me cá para Lisboa e entrei na NOVA. Só aqui é que fiz o doutoramento.


E desde aí que tem estado a dar aulas?

Desde aí, sempre.


Acha que vale a pena, ou seja, é gratificante ser professora?

É, gosto muito de dar aulas.


Portanto, esteve na Petrogal e desde aí que tem estado a dar aulas, não esteve mais na indústria?

Não, mas acho muito importante a ligação à indústria. Acho importantíssima a implementação dos vossos estágios de dissertação na indústria, porque ligam as duas vertentes deste curso em termos de colaboração académica e industrial, que tem sido bastante relevante.

De dar aulas eu gosto muito... gosto muito do contacto e de conhecer pessoas todos os anos.

Por exemplo também estive ligada, e vou continuar a estar, a um curso internacional que temos cá na faculdade, o Mestrado Erasmus Mundus em Engenharia de Membranas. Já decorreu durante 8 anos e agora foi financiado novamente pela União Europeia por mais 3 anos. Vamos ter novamente alunos e esse contacto é muito interessante, porque vêm de todo o mundo e são muito poucos, portanto dá para conhecer realmente as pessoas. É um contacto muito direto com os estudantes, disso eu gosto bastante.


Em relação ao nosso curso, quais são as principais mudanças que deteta desde a sua instrução até agora?

Uma delas é de existir agora uma maior ligação à indústria. Quando fiz o curso, nunca fui a uma indústria, era tudo muito teórico. Só quando realmente fiz um estágio na Petrogal é que tive esse primeiro contacto.

Mesmo também da parte dos professores. Na altura havia e há lá professores muito conceituados a nível de investigação, mas não falavam muito sobre isso e também acho que é importante ligar o que se dá nas aulas à investigação que se faz. Por exemplo, eu quando dou aulas com aqueles processos com membranas estou sempre a dar exemplos práticos do que faço na investigação, acho que isso é muito importante essa ligação.

Depois, a facilidade que agora temos de chegar a toda a informação muito rapidamente… Quer dizer, nem vos passa pela cabeça o que era usar aqueles alfarrábios enormes, aquelas enciclopédias, aquelas coisas todas. Era muito difícil obter informação e agora nós com um clique temos tudo. Para fazer o doutoramento, era preciso andar à procura dos artigos, era uma coisa mesmo quase impossível.


O que é que a professora acha que poderia ser interessante se houvesse dinheiro ou se se quisesse investir e reformular no ensino superior?

Haver um contacto mais direto com os alunos. Estar a dar aulas a 80 alunos é quase impossível. Uma pessoa não consegue perceber de que modo a informação chegou lá ou se não chegou… Quando entrei no meu curso, éramos 40. Era mais pequeno e mesmo assim já acho muito, porque com grupos pequenos é muito mais simples. No fundo, acaba por ser quase uma avaliação contínua, porque a pessoa está sempre a ver se os conceitos foram aprendidos.

A outra coisa que também acho que se calhar devíamos mudar um pouco, mas não sei como é que isso vai acontecer, embora gostasse que isso acontecesse é: não se pensar tanto na nota. Eu acho que mesmo vocês ficam um bocadinho condicionados no pensamento de ter de estudar e fazer o teste para ter um resultado específico. Não devia ser assim. Devia ser para aprender os conhecimentos, para depois os utilizarem mais tarde. Uma coisa está relacionada com a outra, se eu aprender, tenho boa nota no teste, mas não devia ser o foco. O resultado é necessário, mas não devia ser tão determinante.

Acho que isso é complicado de mudar, mas eu sinto que se devia. Se calhar com grupos mais pequenos, já se conseguia ter essa proximidade. Talvez nem fossem necessários testes, porque havia mais trabalhos de grupo (dimensionamento, por exemplo). Em vez de, por exemplo em Processos de Separação, estar a resolver o problema de destilação ou de adsorção na aula, haveria um trabalho para dimensionar esses equipamentos e, portanto, tinham que saber aplicar o que aprenderam para conseguirem resolver.

Com 80 alunos, tinha de haver mais professores…


Qual é o principal conselho que a Professora acha que é importante para os alunos do nosso curso?

Que tentem mais aprender conhecimentos do que memorizar. Eu acho que eu disse isso muitas vezes nas aulas, pelo menos de FTII. Não memorizem, não usem a cabeça para memorizar porque acho que tem de se pensar. Se a pessoa pensar de acordo com os conceitos que aprendeu, consegue resolver qualquer problema. Memorizando não, basta trocar uma coisinha e está tudo errado.


Mas acha que o ensino atual já está melhor em relação a anos anteriores? Porque em Portugal o ensino baseava-se muito em decorar.

Nos cursos de engenharia nunca foi tanto isso. Mas estou a generalizar, sei que há alunos que não são assim, outros pronto sim, há de tudo…


Em relação aos alunos que estão agora a sair para o mercado de trabalho, o que é que acha que é importante?

Para o mercado de trabalho, eu acho que é tentar entrar na empresa e perceber o que podem otimizar. Se vão para lá repetir - claro que no início têm que aprender - não acrescentam muito mais. Portanto, ir com esse pensamento de ter a iniciativa de melhorar o processo, olhar para o mesmo de outro modo. Com as energias alternativas, devem pensar fora da caixa. Mas como tudo, é preciso ter uma boa base. Se a tivermos, depois conseguimos dar o “salto”.


O que é que acha do futuro da energia e da mobilidade? Uma vez que o nosso curso abre muitas portas a isso, temos futuro nisso?

Sim, acho que sim. Vai ser uma área muito importante para vocês se dedicarem. Como engenheiros químicos, vamos ter um papel fundamental. Tecnologias limpas acho que vão ser muito importantes.

Eu propriamente, como consumidora, tento sempre o mais possível usar energias alternativas: tenho painéis solares para aquecimento já há muito tempo. Agora instalei também painéis fotovoltaicos e, portanto, parte da energia realmente já é proveniente do sol. Em termos de mobilidade também. Acho que cada vez mais devemos deixar de usar o petróleo.


Mas acha que vamos ter a capacidade de, por exemplo, todos os carros serem elétricos?

Embora não tenha estudado muito isso, há um grande desenvolvimento em novas baterias que não usam lítio, usam o sódio. Aliás, há um professor que eu conheço bem, o professor Adélio Mendes da FEUP, que está muito nessa área. Fez uma conferência sobre novas baterias de sódio, que são muito mais baratas (https://www.dn.pt/especiais/mobi-summit/sodio-quando-a-alternativa-ao-litio-esta-a-porta-de-casa-15206649.html). Acho que isto vai ter de mudar, sim.


Em relação à propina gratuita, qual é a sua opinião?

Sou completamente a favor. Acho que o dinheiro não poderia ser impeditivo de fazer o curso … e não é só a propina: é ajudar as pessoas que realmente quisessem tirar o curso, portanto, não serem só aqueles que têm facilidade monetária. Até porque noutros países, como na Dinamarca, Suécia, Noruega e Alemanha, mesmo em França a propina é bastante mais barata do que aqui. Se todos esses países conseguem implementar isso, porque é que nós não havemos de conseguir? É usar bem os impostos… Eu acho que isso tem de se implementar, porque perder pessoas que até poderiam ter muito valor e não podem estudar por falta de capacidade financeira é algo com o qual não concordo. Acho que temos de melhorar.


Agora numa parte mais pessoal, qual é a sua melhor memória de infância?

Tenho muito boas memórias da minha infância, tinha imensas para dizer. Mas assim a que eu acho mais diferente era: a minha avó ia fazer termas 1 mês para perto do Gerês e levava cada um dos netos uma semana. Eu adorava aquilo. Tinha 6 ou 7 anos, saía de casa, ia para outro ambiente e ficava lá “apaparicada” pela minha avó, que me dava tudo o que eu queria. É a memória mais diferente. Lembro-me também de que gostava muito de brincar, estar com os meus primos, ir à praia, mas as recordações dessa semana de férias são as que me marcaram mais.


Qual o seu estilo de arte favorito?

Eu gosto de cinema. Quando estava na faculdade, eu pertencia ao cineclube do Porto. Não é como agora, que temos o streaming. Tínhamos acesso a filmes que não eram tão comerciais. Sempre gostei dos filmes franceses e outros. Gostava bastante de cinema e continuo a gostar muito. Também gosto de música e literatura. Não tenho jeito nenhum para a pintura e também nunca escrevi nada de poesia. Gosto de ir ao teatro. Ainda ontem, percebi que está cá uma peça que quero ir ver: o Diário da Anne Frank. Está no teatro da Trindade, nem sabia. Como vivo aqui em Almada, também vou muitas vezes ao teatro de Almada.


Quais são os seus hobbies favoritos?

Gosto de fazer outra coisa que me acalma, que é tricô. Adoro fazer tricô, portanto faço camisolas, casacos… Agora tenho uma sobrinha-neta estou a fazer-lhe um casaquinho. Gosto de fazer isso, entretenho-me e é algo que me acalma.


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