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Hovione - Sara Valk


A Sara Valk realizou a sua tese no segundo semestre de 2021, na empresa Hovione, em Loures. A entrevista foi conduzida pela Rita Grácio. Se preferirem, podem escutar a versão áudio no nosso podcast.

 

Olá a todos! Eu sou a Rita Grácio e estou aqui com a Sara Valk, que nos vai partilhar a sua experiência de Tese na Hovione.


Qual o tema da tua tese?

O tema da minha tese foi aplicar ferramentas de controlo estatístico aos dados de um processo, com o intuito de identificar possíveis problemas e pontos de melhoria.

Após a candidatura para a Hovione, fui sujeita a um processo de entrevista. Fui selecionada para fazer a tese na empresa de Loures e depois, desde o momento em que iniciei, por volta de fevereiro, tive um onboarding geral na Hovione, com outros colegas que também estavam a iniciar lá o seu percurso profissional. A partir daí, tive a possibilidade de lá ir todos os dias, caso fosse algo que eu quisesse. Estive lá enquanto desenvolvia a minha tese e ao mesmo tempo, participava e aprendia em projetos paralelos com as equipas que já estavam lá presentes.


Quais foram os teus orientadores (faculdade e empresa) e as tuas opiniões sobre eles?

O meu orientador na faculdade foi o Professor Mário Eusébio e na Hovione, o Luís Beato.

São duas pessoas muito ocupadas, o que por um lado foi uma coisa boa, mas má por outro. O Professor Mário Eusébio está sempre com imensa coisa para fazer, mas ele é muito bom no que faz e dá ótimas sugestões. Eu infelizmente só consegui ter cerca de três reuniões com ele durante todo o meu período da tese, parte disto também foi culpa minha, porque a minha disponibilidade também não era a maior, havendo uma incompatibilidade de horário. O Luís Beato também é uma pessoa muito ocupada, contudo arranjava sempre tempo para responder às minhas questões e caso não tivesse, indicava-me a pessoa adequada para me ajudar.

Apesar de tudo isto, conseguiram-me dar acompanhamento. Se calhar não foi ao nível que muita gente conseguiu ter, mas foi o suficiente para mim, para conseguir ter uma boa nota.


Como foi o processo de candidatura?

Inicialmente, eramos três pessoas a competir por este tema de tese na Hovione de Loures, portanto o processo de entrevista é relativamente direto. Como em qualquer entrevista de emprego, são feitas perguntas primeiramente relacionadas com uma componente de recursos humanos, onde perguntam sobre a tua personalidade, quais os teus pontos fracos e pontos fortes e como é que reagirias em certas situações. Depois, tem a componente mais técnica, onde as perguntas são feitas pela pessoa que será efetivamente o orientador da tese. No caso, a Hovione é especializada em Spray Drying, uma tecnologia que eles têm vindo a desenvolver desde muito cedo, sendo líderes mundiais. As perguntas que me foram feitas eram mais direcionadas então a esta tecnologia, sobre o meu conhecimento relativamente ao processo e também, por exemplo, sobre transferência sólido-líquido, tópicos deste género, uma vez que são relevantes para este tipo de processo. Previamente à entrevista, fiz muita pesquisa sobre o tema, pelo que também consegui responder sem grande dificuldade. Na verdade, eles não dificultam muito, as questões por ele feitas são facilmente respondidas por quem perceba minimamente do assunto.

Soube muito rapidamente que entrei, penso que a entrevista foi a uma quinta-feira e na segunda-feira seguinte, ligaram-me a dizer que eu tinha ficado com a vaga. No entanto, isto foi o meu caso, sei que o processo de entrada para a Hovione do Lumiar (mais direcionada para a investigação) é mais complexo, engloba cerca de 3 entrevistas o processo pode durar cerca de 2 meses.


Quando começou e acabou a tua tese?

Comecei a fazer a tese no final de fevereiro de 2021 e a entrega só foi em dezembro do mesmo ano. De realçar que a data de entrega foi atrasada de outubro para dezembro, parcialmente por causa da covid.


Como ias para o trabalho?

Eu sou de Cascais, então deslocava-me de carro para lá. Sei que em termos de transportes em Loures, não é muito amigável. Há uns autocarros que partem do centro de Lisboa, mas penso que também seja complicado, devido aos horários.


Qual o teu horário de trabalho?

Eu fazia o clássico 9h às 18h.


Quais eram as condições de trabalho?

Na Hovione, tinha sempre direito ao almoço. Também recebi uma remuneração monetária de 500€ por mês, o que acabava por ajudar na parte da deslocação. Acho que devia enfatizar que não era obrigada a estar lá pessoalmente todos os dias, foi uma escolha minha, principalmente na fase inicial. Queria ter contato direto com este estilo de trabalho e também aprender mais. Nos últimos meses, já não me dava tanto jeito ir, pelo que deixei de o fazer.


Como era o ambiente de trabalho?

O ambiente é sempre muito ocupado, tudo a acontecer muito rápido. As pessoas trabalham imenso. Mas apesar disso, consegui ter acesso a diferentes departamentos. Faziam-me sempre uma visita, apresentavam-me coisas diferentes e acabei por aprender muito, graças à disponibilidade das pessoas que me rodeavam. Nesse aspeto, foi um benefício bastante grande, a equipa era muito simpática, assim como os chefes.


Sentiste que o ambiente era competitivo?

Não. O modo de funcionamento é de dois engenheiros de processo por linha de produção, e por vezes havia pessoas que estavam a trabalhar juntas, mas que não se davam muito bem. Essa é a parte difícil de estar a trabalhar exclusivamente com uma pessoa que tu não conheces. Quando é um grupo de pessoas, isso acaba por diluir um bocadinho, mas trabalhar apenas com uma pessoa que não faz muito o teu género, é mais complicado. Vi isto a acontecer em duas linhas de produção, sendo que existem cerca de vinte.


Como era, em termos de vestuário?

O vestuário é bastante descontraído, poderíamos ir formais ou não. Sendo uma fábrica, eventualmente passado umas horas era necessário ir para uma das linhas de produção, sendo necessário utilizar equipamento de proteção e isolamento.


Qual foi o material de que precisaste? Foi-te fornecido pela empresa?

Todo o material me foi disponibilizado. Deram-me imediatamente um computador, onde desenvolvi grande parte da minha tese, bem como o vestuário necessário para andar pela fábrica: sapatos, bata, cabeleira, etc.


Sentiste-te preparada para o que te foi pedido?

Sinceramente, acho que ninguém está preparado para fazer a tese, independentemente de quem seja. Quando comecei a sentir-me preparada, fui encontrando obviamente os pontos fracos, que só são identificados passado um determinado tempo de estar a desenvolver. Acabei por mudar um bocadinho a narrativa da tese. No fim, percebemos que se faz bem e que a Internet ajuda muito!


Qual a tua maior aprendizagem?

Eu diria a autodisciplina. É preciso muita autodisciplina para pegar nas coisas cedo e perceber imediatamente o que é que está a passar, porque pode haver um imprevisto e convém antecipá-lo. Portanto, autodisciplina foi sem dúvida a minha maior aprendizagem.


Qual o maior desafio?

O maior desafio foi esta questão de ter de ter muita autonomia no que fazia. Não conseguia recorrer a muita gente que percebesse efetivamente o que eu estava a aplicar, então tinha que confiar exatamente no que eu estava a fazer e garantir que eu estava a fazer o melhor trabalho possível.


Gostaste da experiência e recomendas a outra pessoa?

Gostei muito da minha experiência. Entrar na Hovione era uma coisa que eu queria muito desde o início da faculdade. Queria muito experienciar tanto a empresa, como a possibilidade de ser Engenheira de Processo, papel que desempenhei quando lá estava. Acho que é uma excelente maneira de conseguirmos ver cara a cara, bem como aplicar fisicamente tudo aquilo que aprendemos ao longo do nosso percurso académico. Recomendo a quem tenha essa vontade de ter um bocadinho mais as mãos na massa e que queira envergar mais pelo caminho da engenharia, do que propriamente pela química.


Quando começaste o processo da escrita da tese?

Eu comecei bastante cedo, também porque na altura tive de esperar para que certos dados chegassem. Como já referi, fazia o horário das 9h às 18h e estar 8 horas atrás de um computador também incentiva um bocadinho para começar a escrever qualquer coisa.


Quanto tempo demorou?

O processo da escrita não demorou propriamente os 10 meses, eu comecei a trabalhar numa outra empresa em agosto por escolha própria, porque senti que já tinha avançado bastante na tese e que tinha a capacidade de fazer as duas coisas e na verdade, não tive dificuldades em conciliar.


Quais foram as maiores dificuldades durante a escrita da tese?

Senti imensa dificuldade, desde a estruturar. Aquilo mudou muito, quem olhar para a minha primeira versão percebe que não tem nada a ver com a minha versão número 100.


Como correu a apresentação?

Correu muito bem, com um ambiente relativamente relaxado, mas sem passar a linha do profissional. Portanto, a minha apresentação teve uma duração de cerca de 20 minutos, eles são bastante rigorosos com isso. Depois, tive a parte das perguntas. Achei que as questões estavam muito adequadas, tive sorte que a minha arguente leu a minha tese e, portanto, sabia exatamente o que perguntar. Eu também sabia responder. Quando uma pessoa passa 6 meses, e no meu caso quase 10 meses, à volta daquilo, ganha uma certa familiaridade com o assunto.


No final desta experiência, consideras que ficaste com interesse nesta área e que gostavas de fazer isso no futuro?

Achei muito interessante toda a parte do racionamento lógico que está por detrás da parte do processo e de ser engenheiro, mas penso que com este estágio percebi que não era algo que era adequado à minha personalidade e ao meu perfil. Mudei um bocadinho de área agora e estou muito satisfeita com o trabalho que faço, tenho a consciência de que foi a melhor decisão para mim. Estou muito grata por ter tido a oportunidade de estar na Hovione e, no fundo, ter a experiência que queria. Ajudou-me a esclarecer todas as dúvidas que tinha, face a este tipo de trabalho.


Tiveste alguma proposta de emprego?

Sim. Quando estava já a acabar o estágio, havia conversas de que iam montar novas linhas de produção, pelo que precisavam de mais Engenheiros de Processo. Portanto, eu sabia que eles estavam a contratar e foi-me feita quase imediatamente uma proposta para ficar nessa nova linha de produção. Na altura, fiquei bastante indecisa em relação ao que fazer, mas acabei por não aceitar a proposta.


Como foi o processo da escolha do tema da tese?

O tema foi proposto pela Hovione. Antes da minha entrevista já sabia qual era o tema, mas penso que tenha sido uma coisa específica do meu orientador, o Luís Beato. Previamente à entrevista, ele enviou-nos uma informação que incluía um scope geral da tese e, depois na entrevista, perguntavam porque é que eu tinha interesse neste tema.


Mais alguma dica que queiras dar a uma pessoa que vá fazer um tema parecido com o teu ou vá trabalhar para o mesmo sítio que tu?

A Hovione é um sítio ótimo para aprender. Eu aprendi muito enquanto estive lá. Acho que quem gosta de Projeto vai gostar muito de ser Engenheiro de Processo. Foi um sítio ótimo para trabalhar. O acesso é um bocadinho difícil, mas a renumeração acaba por ajudar. As pessoas são muito abertas e prontas a apoiar.


Com isto, finalizamos o nosso episódio, espero que tenham gostado! Toda a informação aqui falada também se encontrará no site do NEQB. Obrigada a todos os que nos estão a ouvir e obrigado à Sara Valk por ter partilhado connosco a sua experiência.

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