O Shelbe Andrade realizou a sua tese no segundo semestre de 2021, na empresa Amorim, no Porto, porém, a tese foi realizada em formato remoto. A entrevista foi conduzida pela Rita Chagas. Se preferirem, podem escutar a versão áudio no nosso podcast.
Qual foi o tema da tua tese?
O tema da minha tese foi Desenvolvimento de uma Ferramenta de Análise de Imagens para Caracterização da Cor da Rolha de Cortiça. Este era o título, mas o objetivo era essencialmente desenvolver um protótipo que permitisse fotografar e caracterizar a cor de um conjunto de rolhas. As fotografias eram analisadas e processadas em LabVIEW, uma linguagem de programação gráfica. As rolhas eram identificadas e caracterizadas quanto à sua cor e os resultados eram indicados numa interface, que eu desenvolvi com o protótipo.
Quem eram os teus orientadores?
Na empresa, o Dr. Luís Cabrita e na faculdade, o Prof. Mário Eusébio.
Como foi o processo de escolha do tema e de candidatura?
Nos meus tempos livres, já me dedicava a aprender Python e pareceu-me algo que quisesse desenvolver. Falei com o Prof. Eusébio e perguntei-lhe se havia algo do género em regime remoto e ele falou-me da Amorim. Disse que era um tema interessante e experimental. Pareceu-me algo de que fosse gostar e decidi candidatar-me.
A maior parte das empresas faz entrevistas primeiro, como é o caso da Amorim. Mas acho que fui o único a candidatar-me e por isso, a entrevista serviu apenas para me conhecer e saber se tinha experiência com o aquilo em que ia trabalhar.
É só preciso mostrar que conseguem trabalhar e são boas pessoas. No entanto, se estiverem num ambiente mais competitivo, a candidatarem-se contra mais pessoas, é possível que seja um pouco diferente.
Disseste que o teu estágio foi em regime remoto. Chegaste a visitar a empresa alguma vez?
Fui duas vezes: a primeira foi para conhecer a empresa. A segunda, foi porque na Amorim costumam fazer uma apresentação final de estágio, diferente da apresentação da tese, em que se apresenta o que se fez e como isso pode beneficiar a empresa.
Qual foi a duração do estágio/processo de escrita? Quando começou e acabou?
Como eu não tinha experiência na área da minha tese, tive de começar mais cedo que a maioria dos meus colegas. Comecei assim que Projeto 2 acabou e entreguei a tese no último dia do prazo de entrega. Foi mais ou menos de fevereiro a novembro.
Por ter sido à distância, o horário de trabalho era mais flexível?
Esse foi o grande benefício do estágio à distância, mas depende da forma como se vê a situação, pode também ser uma desvantagem. Mas apenas tive de apresentar trabalho e resultados satisfatórios.
O teu estágio foi em regime remoto, mas tens algo a dizer sobre as condições de trabalho?
Quem estivesse a trabalhar presencialmente, recebia remuneração da empresa. Mas deve ser apenas o suficiente para arrendar um apartamento na zona e comer fora uma vez por semana.
Como era o ambiente de trabalho e o tratamento com o teu orientador?
Quando lá fui, toda a gente que fazia parte da equipa do departamento onde estagiei me pareceu muito simpática. Eram poucas pessoas, estavam todos à vontade e até faziam brincadeiras. Isto foi o que me deixou mais triste por não ter feito em regime presencial.
A forma de tratamento com o meu orientador era muito informal.
Precisaste de algum material em específico?
Eu criei o código no meu computador pessoal, mas para desenvolver o protótipo precisei de uma boa quantidade de fundos, para máquina fotográfica e material para impressão 3D. A Amorim sempre me deu a liberdade para adquirir o que precisava. Acho que esta é uma das vantagens de estagiar numa empresa grande.
Já disseste que não sabias muito do que ias trabalhar. Mesmo assim, sentiste-te preparado para o que te foi pedido?
De todo, o que também me causou mais interesse neste tema. Acho que nem os meus colegas se sentiram, o mundo do trabalho é muito diferente daquilo a que estamos habituados. Nas empresas, também podem ter expetativas muitos altas para o que sabemos ou não fazer. Por isso, não sei se alguma vez vocês se vão sentir preparados, quando forem para o vosso local de estágio. Mas façam perguntas, eles preferem explicar-vos as coisas com antecedência a ter de vos corrigir mais tarde.
Começaste logo a escrever a tese ou deixaste tudo para a última?
Não comecei logo, porque estava a aprender ainda as coisas. Devo ter começado um mês depois, quando me senti confortável com o tinha de aprender. No geral, vão-vos pedir imensas coisas, vão ter de se dedicar muito à Introdução e ao Estado da Arte, por isso, mais vale começar o mais cedo possível. Para além disso, vão ter de reescrever o que fazem imensas vezes.
Quais foram as maiores dificuldades que sentiste ao escrever a tese?
Não tive grandes dificuldades no processo de escrita, porque estava ligado ao meu trabalho, que era algo que me agradava. Para além disso, também gostava muito de expor as minhas ideias. Se houvesse uma maior dificuldade, diria que foi em fazê-lo, de forma que qualquer pessoa conseguisse entender. Eu e o Prof. Eusébio sabíamos que a tese poderia vir a ser lida por alguém da área da Química e o tema era programação e fotografia. Assim, era importante escrever as coisas de maneira que as pessoas as conseguissem entender, mas não a que achassem que qualquer pessoa pudesse replicar. A melhor ajuda para isso vai ser a vossa família e amigos, basta enviarem-lhes partes da vossa tese e ver se eles conseguem entender. A lógica é que se uma pessoa que não está dentro da vossa área consegue acompanhar o que se passa, um professor universitário também.
Como funcionou a apresentação?
Começou com alguns minutos de apresentações e conversa, para “quebrar o gelo”. Depois, procedeu-se à apresentação. Quando acabou, o júri fez perguntas sobre a apresentação e o arguente questiona sobre a tese e dá sugestões de melhoria. Depois, foram para uma sala à parte decidir a nota e comunicaram-na. Acabou com uma ronda de despedidas e agradecimentos dos orientadores e do júri.
A nota vai depois para revisão na Divisão Académica.
Como correu a apresentação?
Diria que correu bem, sim.
Qual foi a maior aprendizagem que tiraste deste processo?
Para alem do óbvio, que foi aprender sobre rolhas, prototipagem e fotografia, foi saber quais os meus próprios limites. Fiquei a saber até onde conseguia desenvolver e chegar, se me empenhasse e tivesse o apoio de bons orientadores.
E qual o maior desafio?
O maior desafio pode também ser visto como a maior vantagem: o facto de ter sido à distância. Para além disso, o facto de não ter havido expetativas, o que por um lado nos dá um sentimento de liberdade de horário, mas por outro também nos dificulta em saber quando parar ou quando temos resultados bons o suficiente para nos dedicarmos apenas à escrita da tese.
Tiveste alguma proposta de emprego?
Fui convidado para ser Engenheiro de Processo na Amorim e continuar a desenvolver o protótipo da minha tese, mas tinha de me mudar para o Porto e por isso, recusei. Estou ainda no desenvolvimento do protótipo, ainda que não esteja lá empregado. Estou a trabalhar na Cloudflare, uma empresa de Internet e cibersegurança.
Gostaste da experiência e recomendas a outra pessoa?
Gostei muito, mas foi porque se adequava muito com a minha personalidade: trabalho à distância e o tema ter a ver com programação. Sinceramente, acho que naquele ano não arranjava um tema que tivesse tão a ver comigo como este. Recomendo estagiarem na Amorim, são muito simpáticos e aprendi muito. Não sei se posso recomendar exatamente a minha experiência a qualquer um, depende do gosto de cada pessoa.
No final desta experiência, consideras que ficaste com interesse nesta área?
Mantive o interesse na área em que fiz o estágio, estou a trabalhar com Informática. Também me candidatei a alguns trabalhos na área da Química.
Mais alguma dica que queiras dar a uma pessoa que vá escrever a tese futuramente?
Vou falar apenas da tese, que é algo muito importante e não devem desvalorizar. A tese em si pode ser escrita em 2 ou 3 meses, o problema é a qualidade que vocês impõem a vocês mesmos e que querem entregar. Para apresentar algo bom, é necessário começar a escrever o quanto antes: assim, vão fazendo as alterações que acharem necessárias e corrigir o máximo de erros possível. Isto diminui a probabilidade de vos apontarem erros na apresentação e ajuda-vos a ter boa nota.
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