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ADP Fertilizantes - Carolina Carvalho

Onde é que estagiaste, Carolina?

Estagiei na ADP, Adubos de Portugal. A minha orientadora, apesar de ser engenheira, não era da nossa área, mas trabalhava em controlo de qualidade e, por isso, contactei um pouco com o ramo da Engenharia Química. Era muito trabalho de escritório, mas também é raro o estágio em que, infelizmente, isso não acontece.


Em que consistiu o estágio? Já disseste que era um bocado trabalho de escritório. O quê concretamente?

Ao início foi péssimo. Colocaram-me a fazer traduções de manuais de aparelhos. É muito mau colocarem um aluno no seu primeiro estágio a realizar uma atividade que não lhe vai dar nenhuma informação para o futuro. Como é obvio, vai depender de pessoa para pessoa, mas se não quiseres fazer o trabalho, podes sempre procurar outro. Outros trabalhadores disseram-me que a orientadora me podia pôr a fazer qualquer trabalho. Até limpar armários, se fosse necessário.

Apesar de ter começado mal, à medida que o tempo foi passando, fui demonstrando que não estava contente e que queria fazer mais, então a orientadora colocou-me no laboratório de controlo de qualidade. Foi ótimo, pois às vezes tens a ideia de que o controlo de qualidade é chato, mas pude perceber como o laboratório funciona e como se garante a qualidade dos adubos. Neste processo, faz-se também muito controlo de águas.


Então foi mais burocracias ou foi mais trabalho de laboratório no final?

No final foi mais trabalho de laboratório, sim.


Então e que balanço fazes? Achas que foi uma experiência proveitosa? Acrescentou-te algo ou não?

Considero que foi uma experiência proveitosa, pois também são necessários momentos que correm menos bem. Olhando para trás, sinto que aprendi imensas coisas. Neste momento, tenho uma ideia de como se processa o controlo de qualidade e percebi como funciona um laboratório. Tive também a oportunidade de realizar algumas tarefas com os colaboradores e, principalmente, aprender com eles. Com isto em mente, considero que isto chega sempre a ser uma boa experiência. Para além disso, tenho a noção de que houve pessoas com tarefas piores que as minhas, como por exemplo escrever um relatório. Acho que todos os estágios têm aspetos negativos que nos fazem perder a vontade de continuar mas, no final, pensamos sempre que podia ter sido pior.


Então não te arrependes da escolha que fizeste, em ir para a AdP?

Não é bem uma escolha. Colocas os estágios por ordem de preferência. Se não fores tu a contactar a diretamente com a empresa, nunca chega realmente a ser uma opção tua, mas não me arrependo.


O que é que mudavas no estágio se fosses tu a orientadora?

Acho que se fores um orientador tens que ter noção do estagiário e da área em que estuda e, pelo menos, fazer com que o trabalho que lhe vais atribuir esteja o mais perto possível disso. Caso não for exequível, pelos menos ensina-lhe algo novo. Eu não sou tradutora e, por isso, não faz sentido colocarem-me a traduzir aparelhos. Mas, por exemplo, se me pusessem a aprender sobre o funcionamento dos reatores e das máquinas, que é um trabalho de engenharia mecânica, pelo menos estaria a aprender algo novo, apesar de não ser exatamente da minha área.


Existe algum mecanismo de feedback? Acabas o estágio e consegues dizer aos docentes o que gostaste e não gostaste?

Penso que sim, que se tivesse enviado mail ao professor a expressar a minha opinião, ninguém me iria julgar. Isto não ia mudar muita coisa, porque já é um estágio que acontece há muito tempo. Isto está relacionado com a orientadora, enquanto não mudar, vamos continuar a fazer o mesmo. Consigo-te dar um exemplo, no sítio onde eu estive é preciso ter muito cuidado com a rede de água, pois não vem completamente limpa e contém muitos químicos. Na primeira semana, era suposto ter tido uma formação de segurança no trabalho, em que me iriam dizer que a água da torneira não é boa para beber. No último dia, a orientadora lembrou-se que ainda não tinha a realizado e disse que tinha de o fazer imediatamente. Mesmo que tivesse comunicado isto aos professores, não havia nada que eles pudessem fazer. Eles escolhem as empresas, não os orientadores.


O nosso curso é um curso que tem muita saída, do género de haver muitas áreas diferentes para as quais nos podemos virar. Achas que o estágio contribuiu para afunilar as tuas intenções do que queres fazer no futuro?

Não diria afunilar, porque não fiquei a achar que isto seria definitivamente o que vou fazer no futuro, mas sinto que poderá ser uma opção. No início do curso, dizia que nunca iria para controlo de qualidade, preferia algo relacionado com investigação na área da bioquímica. Mas agora, se tivesse de me candidatar a um trabalho em controlo de qualidade numa fábrica, fá-lo-ia. Não afunilou, pelo contrário, acrescentou-me uma opção, o que também considero bom.


Então não conseguiste chegar a uma conclusão do que queres fazer no futuro?

Não.


Que dicas podes deixar a quem faz o estágio agora?

Falar com muita gente e não ter medo de perguntar. Se tivesse perguntado aos mais velhos antes de tomar a minha decisão (o que fizeram nas empresas, etc.), talvez não tivesse escolhido as mesmas opções. É muito mais fácil perguntar a pessoas que já lá estiveram, do que simplesmente achar que parece bem. Já temos tão poucas opções e ainda vamos a sorteio, acho que merecemos pelo menos saber quais são as que nos vão acrescentar alguma coisa.


E mesmo dentro do estágio, tens alguma dica para dar? Dress code, se há alguma linguagem que tens que usar, se tem que ser mais formal? Se tens que estudar alguma coisa antes? Acho que depende do sítio. No primeiro dia, pode haver a incerteza sobre o que vestir. Aconselho a vestirem qualquer coisa que achem bem, depois lá vê-se o que as pessoas usam. No segundo, vamos conforme o que vimos no dia anterior. No meu caso, não me vesti de maneira diferente do costume. Quanto à preparação, cheguei lá e começaram a explicar-me imensas coisas. Eu captei-as, pois já tinha algumas bases. Não vão testar os conhecimentos que tens, ninguém te vai perguntar se sabes coisas em concreto, nem te apontam o dedo se não souberes algo em específico. Vais chegar lá e eles vão esperar que não sabes nada, não vão estar à espera de que percebas software ou linguagem que eles usem, as máquinas, etc. Vão explicar tudo de início. Já estás preparado o suficiente e não tens que estudar nada.


E voltaste a fazer mais algum estágio desde então?

Não, mas estou a pensar nisso. O Covid também não veio ajudar, mas é sempre bom continuar.

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