A Maria Santos estagiou na Ascenza Agro, localizada em Setúbal, durante o mês de fevereiro de 2022. A entrevista foi conduzida pela Rita Chagas e Sofia Hoosseni.
Sentiste necessidade de alugar casa para ficares perto do local do teu estágio? Quanto tempo demoravas de viagem até ao local?
Eu tenho noção do privilégio que tenho, por estar a morar em Lisboa. Para mim, viagens entre Lisboa e a Caparica nunca foram problemáticas, se bem que para Setúbal é muito mais complicado. Demorava cerca de 1 hora para ir e para vir. Decidi não alugar casa, mas de facto tive de despender algum tempo a realizar estes trajetos.
Em que áreas incidiu o estágio?
A Ascenza Agro é uma empresa dedicada aos pesticidas e herbicidas e, portanto, o meu estágio foi ligado a esse setor. No fundo, fiz uma observação do que é a empresa e de todas as etapas que levam ao produto final.
Dentro da área em que estiveste, que atividades realizaste?
Pelo facto de o estágio ter sido muito curto, passei por um setor diferente em cada semana. Na primeira, fiquei na parte dos enchimentos; na segunda, trabalhei na formulação do produto e só na terceira é que foi o controlo de qualidade. Acabei por ter um bocadinho destas três áreas juntas e acho que foi muito bom. Por acaso, deparei-me com uma situação com a qual não esperava. Durante a semana do controlo de qualidade, interagi com três pessoas que estavam a entrar para o setor naquele momento. Quando eu falava com eles sobre tudo o que tinha visto nas semanas anteriores, não se conseguiram identificar. Estavam a trabalhar apenas no laboratório, então não sabiam o que se passava na fábrica. Acho muito importante termos esta noção do que é a indústria e o que lá acontece.
Que aspetos positivos é que consegues retirar do estágio?
Tenho muitos aspetos positivos. Lidei com pessoas muito diferentes, porque mudei de setor todas as semanas. Todos me trataram impecavelmente, foram muito simpáticos comigo. Mostraram-se pacientes com o facto de eu estar a aprender e a observar, nunca me pressionaram. Só me diziam para fazer alguma coisa, quando me mostrava preparada para tal. Acho isto muito importante, porque chegamos ao estágio muito inseguros, porque por mais que estejamos a acompanhar o que aprendemos no curso, nunca estamos preparados para o mundo do trabalho. Isto é algo que nos assusta, mas eles foram incrivelmente pacientes comigo. Gostei muito.
E em termos de soft skills, retiraste algo?
Eu diria que as primeiras duas semanas foram muito voltadas para as soft skills, na medida em que não fiz muita coisa. Fui aprendendo com as pessoas que lá estavam: como controlavam os equipamentos para se conseguir gerar o produto, os problemas que foram tendo ao longo da semana e a forma como se lidava com isso e a maneira como histórias tão diferentes se conseguem complementar. Há imensa gente nas indústrias que não tirou uma licenciatura, mas fazem o seu trabalho todos os dias há 30 anos. São tão bons, que se calhar aprendem muito mais do que pessoas que estudam a teoria por imenso tempo. Acho esta complementaridade muito importante.
Sentiste que possuías as competências necessárias para o que te era pedido?
Sinto que pelo facto de estarmos num local novo e as coisas não estarem onde estamos habituados a vê-las nos laboratórios da faculdade, a nossa aprendizagem foi recriada, uma vez que nos leva a pedir ajuda. No entanto, sinto que consegui estar à altura do desafio na parte prática.
No que toca a segurança, que equipamentos tiveste de utilizar?
Na parte do controlo de qualidade, tive sempre de usar bata. Forneceram-me todos os equipamentos de segurança e diziam-me o que tinha de utilizar em cada semana, dependendo do setor em que ia estar e da toxicidade dos produtos.
Se pudesses voltar atrás, tinhas escolhido a mesma empresa para realizar o teu estágio?
Essa é uma pergunta um bocadinho tricky, porque nós nunca sabemos o que poderíamos vir a aprender noutros estágios. Mas sinto que isto foi o que eu precisava no momento inicial da minha aprendizagem. Fez toda a diferença. Consegui atingir tudo aquilo que queria logo na primeira semana e isso faz-me concluir que se voltasse atrás, escolheria o mesmo.
O que mudarias no teu estágio, de forma a corresponder à totalidade das tuas expectativas?
Talvez o facto de o laboratório de controlo de qualidade ter sido introduzido tão tarde no meu estágio. Se calhar, juntava aquelas primeiras duas semanas numa só, para ter uma visão geral de toda a empresa, e fazia duas semanas de laboratório mais intensivas. Mas isto é uma escolha pessoal, porque esta é a área de que gostei mais e onde me vejo mais a trabalhar.
O estágio foi remunerado? Quanto à alimentação, tinhas subsídio de alimentação ou refeições incluídas?
O meu estágio foi remunerado e davam-me tudo em relação à alimentação. Foi remunerado, pelo facto de a distância que eu percorria ter sido tão grande e por não ser tão fácil de lá chegar de transportes. Isto foi para mim uma enorme mais-valia, porque me ajudou muito.
O estágio contribuiu para um afunilamento das tuas intenções de futuro emprego na área? Consegues perceber mais agora o que queres fazer no futuro?
Eu tenho a mente um bocadinho aberta, na medida em que me vejo a ser feliz em várias áreas. No entanto, queria muito experimentar esta e perceber se ela também se inseria nesta lista. Surpreendeu-me pela positiva, porque eu gostei muito. Não só do tema, mas da empresa toda. Identifiquei-me muito com este estilo e achei que foi incrível e esclarecedor.
Que dicas podes deixar a quem vai fazer os estágios agora?
Eu diria para não ficarem tão centrados em escolher o estágio certo, porque muitos deles são espetaculares. Aconselho a focarem-se em estágios com assuntos diversos e que vos façam sair um bocadinho da zona de conforto. Tenham também em conta que, de facto, a fase inicial é de algum receio. Não tenham medo de pedir ajuda e experimentar coisas novas, porque é o sítio para aprender e nos introduzirmos na área. Desta forma, acho que vão gostar muito.
Tens mais alguma informação útil para quem vai fazer estágio na tua empresa?
Só gostava de dar ênfase a esta questão de se relacionarem com todo o tipo de pessoas. Não é porque nós temos cinco anos de curso, que o conhecimento de outras pessoas que podem não ter este nível de estudos é inferior, pelo contrário. Eles trabalham na área há muitos mais anos e sabem muito mais do que nós, em termos práticos. Acho que é muito importante mostrarmos o devido valor e respeito, porque são estas as pessoas que de facto podem tornar o estágio muito bom ou não.
Para terminar, se tivesses de descrever o teu estágio em três palavras, quais escolhias?
Descreveria como desafiante, divertido e certo.
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